Trecho da fala da Mentinha ou "Sonho que todos sonham faz a justiça chegar”
Curral Velho é uma pequena comunidade de pescadores e agricultores com cerca de 3000 habitantes e fica a 4 km da sede do município de Acaraú e a cerca de 220 km de Fortaleza. Com produção anual de 21.350 Kg de peixe e 3.340 Kg de lagosta, parte do pescado local advém dos currais (armadilhas de pesca em madeira) instalados perpendiculares à costa. Além da pesca, há ainda na comunidade uma relação direta dos moradores – sobretudo mulheres e crianças – com os manguezais: vivem do que pode ser extraído do mangue, como caranguejo, camarão, siri, peixe, ostra e sururu. Curral Velho também é lugar de rendeiras que tecem no rápido jogo de paus, coquinhos e linhas sobre as almofadas mais do que desenhos de suas rendas de bilro. Como comunidade tradicional associada aos manguezais, sua população depende direta e indiretamente da saúde desse ecossistema para garantir sua sobrevivência e vem lutando pela conservação de seu patrimônio ambiental. Uma resistência marcada pela coragem e determinação consolidou a organização comunitária frente à construção repentina, a partir do ano 2000, de viveiros de camarão bem próximos aos locais em que residem moradores e moradoras e que lhes serviam para pescar e coletar mariscos. Desde esses tempos, a comunidade vem sendo ameaçada e seus moradores e moradoras sofrendo violências diversas (inclusive homicídios e tortura). A Lei Brasileira e as Convenções Internacionais definem o manguezal como área de preservação permanente e de relevante importância para construção da biodiversidade. Além das leis, outros recursos que vêm sendo aproveitados pela comunidade como reforço nessa luta de afirmação da vida são as diversas linguagens artísticas típicas de sua cultura (cordel, cantoria, reisado, poesia, música, pintura e artesania). Apesar dessa resistência, parte do manguezal foi degradada pela instalação de fazendas de camarão, o que provocou na população um problema de segurança alimentar pela redução dos níveis de produção pesqueira. Esses potenciais artísticos como fortalecimento da identidade cultural estão sendo potencializados com a construção do Centro de Referência Cultural e de Arte-Educação Ambiental, que prevê atividades de intervenção e pesquisa sobre os manguezais e o mar, além de formação artística para a população em geral. O centro buscará ainda a geração de renda a partir da visitação, da venda de artesanato produzido e do turismo de cunho ambiental e comunitário, além da sistematização e publicação dessa experiência através de um vídeo e um catálogo com resultados do trabalho em artesania.
Nenhum comentário:
Postar um comentário